quarta-feira, 23 de junho de 2010

Vamos ao Vinho?



É esta a pergunta que faço ao meu pai desde os 3 ou 4 anos de idade. No príncipio não podia ir...
Porque iam às 6h00 da manhã na Hanomag Verde do Ti Hilário, ou porque era demasiado pequeno para estas andanças?!

A resposta foi rápida e aos 7 ou 8 anitos já acompanhava a comitiva.

O Quim fica no Grou, em Amoreira da Gândara e é lá que vamos engarrafar vinho para o meu Pai e para o Sr. Teles, para o Sr. Humberto ou para o Titi Zé. São estes os resistentes e o Vinho da Bairrada é o responsável de tanta longevidade?... Engarrafa-se em garrafões, barricas, pipos e nas tradicionais garrafas verdes... o Titi Zé está quase nos 80 e ainda mete as rolhas como se tivesse 15 anos. (que power!)

(Aqui podem ver-se o meu Pai e o Alexandre, filho do Sr. Humberto, sim porque isto passa de pais para filhos... bem como os aparelhómetros de engarrafar e rolhar ou os gigantes tunéis)

Quando era mais puto, ajudava o meu pai a lavar as garrafas vazias do ano anterior, acomodava-as na 4L e alguns anos depois num atrelado, puxado pela mesma. Ultimamente iam em grades na minha 4L. (A do meu pai "desapareceu" em 1996) Era uma aventura passar na EN235 em paralelo e chegar cedinho àquela Casa de Lavrador; gigante, cheia de esconderijos... Havia a Loja da Tia Alice, a Esposa do Quim, onde se vendia desde o milho ao detergente, parafusos, tintas, chiclets, batatas ou frangos vivos e mistura para as motorizadas, (Ainda me lembro da Sachs Minor dela)
E havia também um ribeiro para brincar... Pois! Porque não ia para a adega. Os tunéis eram gigantes e lembro-me do cheiro intenso, haviam sempre os netos ou os filhos de alguém para brincar e umas vinhas ou hortas para explorar, umas árvores para subir e a fruta mesmo à mão...





(Nestas fotos podem ver-se a Eira onde as galinhas andam à solta e o Pátio com o acesso à Loja da tia Alice e aquela é a sua Yé Yé)
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Há uma altura em que começo a ajudar mais assíduamente, rolhando num aparelhómetro com as rolhas de cortiça, passando garrafas aos rolhadores... carregando cestos de vime com garrafas soltas, empilhando garrafas no atrelado ou na 4L azul.



(Esta é a Cozinha do Fumo onde não existe fogão...)



(Aqui é uma casa de banho inteligente... o que "não presta" serve de adubo! Nem todos os WC's modernos têm duas sanitas... e já se vêem poucas destas tão tradicionais!)
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Houve anos em que fui sozinho e fiz de tudo. Ultimamente trago para mim e lá em casa a Nice e alguns dos nossos amigos adoram este "Vinho pra Cabrões". É assim que é conhecido na gíria, por ser forte e ter aquele piquinho tipo champanhe. Ou se detesta ou se adora! É o típico Vinho da Bairrada, Vinho de Lavrador que tempera Chanfanas... feito como há séculos por mãos sábias... o Quim Portovêdo do Grou (RIP)

Este foi provavelmente o último ano em que perguntei ao meu Pai: "Vamos ao Vinho?" porque o Quim faleceu pouco antes de irmos engarrafar mas, fez questão de deixar tudo à moda e a Nora poderá continuar o legado deste sábio lavrador da Bairrada...
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Ficam estas fotografias em jeito de homenagem e que o legado não desapareça!

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